sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Ainda sobre a tragédia em Minas.



Eu gostaria de saber por que um órgão como o Ibama, que atua numa área de importância vital para a continuação da vida no planeta, não tem poderes de fiscalização e de polícia para impedir que uma obra condenada por ele tenha continuidade. Como a Samarco foi capaz de desmatar mais do que o permitido pelo Ibama? Não permite e não fiscaliza? Como pode ser isso? Pra que serve a existência de um órgão como o Ibama, então? Parece brincadeira de criança e a gente sabe que isso é muito sério.
De acordo com documentos, o Ibama determinou a “invalidação da anuência nº 060/2006 e embargo do empreendimento” em julho deste ano, coisa que já havia sido pedida por uma analista ambiental e uma procuradora federal em 2014, segundo o jornal O Globo. Por que essas pessoas não têm poder para agir sem burocracia e embargar obras criminosas de pronto, deixando a população à mercê desses crimes ecológicos ad eternum ?

Será que vamos viver pra sempre submetidos a uma burocracia burra e limitante da valorização da vida? Que Brasil queremos? Será que nosso povo vai ficar sempre aceitando o que vem de cima sem se revoltar? Não é pra pegar em armas e sim pra confiscar motosserras. Alô Brasil, vamos deixar que o poder do dinheiro nos condene a uma morte em vida? Com a palavra, advogados. Com a ação, o povo brasileiro. 

Que vida vai nos restar?


       


         O mesmo prefeito Eduardo Paes, que não considera nenhum problema um candidato à prefeitura do Rio (o secretário Pedro Paulo Carvalho) ser um cidadão violento, a ponto de ter espancado a própria mulher por duas vezes – isso é o que ficou oficialmente conhecido, embora seja possível e provável que não tenham sido as únicas vezes - autorizou a construção de condomínios em reserva ecológica. Com isso, o Museu Casa do Pontal, no Recreio dos Bandeirantes, corre o risco de ficar inundado por uma chuva mais forte e perder, entre outras coisas, obras de Mestre Vitalino. E daí? Obra de arte não pode ser vendida e, portanto, não dá dinheiro. Apartamentos sim. Que bom, é com essa mentalidade que vamos destruindo nosso país que acaba de sofrer uma crime bárbaro contra a natureza e a vida nas terras de Minas. E, como sempre e mais uma vez, nenhum governante se responsabilizará. Triste país.

sábado, 22 de dezembro de 2012

A ética da condescendência e um Feliz 2013!



Para o antropólogo Roberto da Matta, o que estamos vivendo no Brasil de hoje, enredados nas tramas do mensalão, Rosemary, Lula, PT e tantas outras, pode ser compreendido no que ele chama de “ética da condescendência”, em que os poderosos têm um discurso moralista que só não vale para os amigos. Ou seja: mais um ano fica para trás sepultando nossas esperanças de que as coisas vão melhorar e o Brasil vai conseguir superar seus problemas e suas idiossincrasias. Ainda não foi dessa vez.
No ano que passou, entre idas e vindas, a presidente Dilma acabou vetando nove pontos do projeto do Código Florestal, que os ruralistas prometeram contestar. Ainda assim, a realidade é que a Floresta Amazônica continua sendo desmatada e ficando mais pobre a cada ano, sem que nada consiga deter esse fato, enquanto as mudanças climáticas vão levando espécies à extinção e o homem poluindo seus mares e rios com lixo plástico.
Em meio a tudo isso, fechando os olhos ao inegável crescimento da consciência do valor da agricultura orgânica, o Ministério da Agricultura pressiona para a liberação de produtos agrotóxicos, que tanto mal causam à saúde da população. Esse é o Brasil das cidades cujos governantes só pensam em faturar votos, benesses, fortunas e onde os viadutos vão sendo corroídos pelo descaso, as árvores arrancadas sem dó nem piedade e o povo sem voz assistindo de camarote. Feliz 2013!



domingo, 14 de outubro de 2012

Marcadas para morrer.



Cada vez que vejo maquetes de projetos arquitetônicos ou simulações delas feitas em algum programa de computador, por arquitetos famosos ou não, uma coisa me chama sempre a atenção: a falta de árvores ou uma vegetação pobre em termos de capacidade de sombreamento. Geralmente, são projetos arrojados, de linhas arquitetônicas modernas e espaciais, mas cercados por jardins de paisagem quase minimalista, tão econômica é a utilização de vegetação arbórea, como se a natureza fosse competir com a arquitetura. E isso, levando-se em conta que “fazer paisagismo” está na moda – imaginem se não estivesse.
Todas essas coisas me voltaram à mente a semana que passou, quando li – pela “septuagésima nona vez”, só este ano – sobre a morte de três árvores na Urca, no Rio de Janeiro, uma vez mais sob a batuta e a “desorientação” da Comlurb.
- Como me parece “déjà vu” o fato de as três árvores serem amendoeiras de mais de 40 anos de doação de sombra generosa e abrigo aos que por debaixo delas passavam!
Além da bobagem de acharem hoje em dia que amendoeiras não nos servem mais, por serem invasoras na nossa paisagem, elas ainda pecam por “sujarem” o chão das ruas, com suas folhas que caem no outono. Quem vai querer árvores que “sujam”?
O fato é que a população das cidades ainda não se deu conta da importância da preservação das “velhas” árvores e da necessidade de termos muitas copas sobre nossas cabeças. Nem a Prefeitura, de que é preciso urgentemente colocar na Comlurb pessoas com mais capacidade e  consciência da responsabilidade e do poder que têm nas mãos.  A desculpa é a de sempre: as árvores estavam mortas. Na verdade, acho que elas estavam apenas condenadas a morrer, justamente por serem velhas e, portanto, inúteis, como tudo o que é velho nos tempos atuais. O triste é que podem plantar mil outras árvores para compensar essas perdas, mas quantos anos serão necessários para que elas consigam nos dar sombra?

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Código de morte.




Triste Brasil. Na semana em que se comemorou o dia da árvore, ruralistas vencem mais uma vez no Senado Federal e conseguem aprovar uma medida provisória para o Código Florestal, que decreta a morte de nossas matas e rios. Diminuindo as faixas de recuperação da vegetação em áreas de proteção ambiental, na beira dos rios, para médias e grandes propriedades que desmataram ilegalmente até julho de 2008, mais uma vez vence a ganância e o poder do dinheiro e perde o mundo inteiro. Sem vegetação, secam os rios; sem rios, secam as matas; sem matas, seca a vida.
Essa é uma constatação que vem aos poucos ganhando consciências, com o aumento do interesse pela agricultura orgânica, que preserva mais o solo, a educação das crianças, esperança para o futuro, e as notícias das mudanças climáticas e dos desastres nucleares, sinalizando que alguma coisa está fora da ordem. Mas ainda estamos longe do dia em que, quem sabe, rezaremos todos pela mesma cartilha da preservação desse bem de valor inestimável que é a natureza.
Ainda nesta semana da árvore, nos veio a notícia de que moradores de uma conhecida rua de Ipanema, no Rio, tentam matar, de maneira vil e covarde, uma árvore que atrapalha a saída de uma garagem, colocando pedras de cimento sobre suas raízes, com a intenção de matá-la por falta d’água, e ainda injetando veneno no tronco, num ímpeto de maldade sem limites. E pensar que isso acontece no bairro mais badalado do Rio, onde imagina-se que deveriam viver pessoas bem educadas e esclarecidas. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Obituário. Causa mortis: poda.





A coluna do Ancelmo Gois, no Globo de segunda-feira, dia 3, anunciou a derrubada de uma frondosa e centenária figueira – mais uma -, num terreno do banco Bradesco, em Botafogo, na sexta-feira anterior.  Segundo a nota, os vizinhos tentaram em vão salvar a árvore, mas a alegação de que ela estava condenada por um laudo da Defesa Civil falou mais alto e a Fundação Parques e Jardins autorizou o abate.
Até quando as árvores da cidade, que atende pela alcunha de “cidade maravilhosa”, vão continuar vindo abaixo pelo descaso das autoridades competentes? Talvez devêssemos dizer autoridades incompetentes, pois salta aos olhos o crime que vem sendo cometido contra nossas árvores há tanto tempo e ninguém faz nada a respeito.
Não sei o verdadeiro estado da pobre figueira – “prenhe de diversidade”, segundo uma leitora da coluna, já que era habitada por pássaros, micos e bromélias -, mas sei o que anda levando nossas árvores ao triste fim: as podas mal feitas, que vão afilando seus troncos. Como não mais conseguem crescer para os lados, desesperadamente tentam subir para procurar sobreviver. Despidas dos seus galhos mais rentes ao chão, em amputações criminosas, elas perdem o equilíbrio e o peso do fino tronco leva-as ao solo.
A desculpa de que vão plantar não sei quantas mudas no lugar da derrubada, não convence: geralmente, esse plantio é feito por pessoas que não conhecem o assunto e vemos surgir milhões de mudas inapropriadas a uma cidade ensolarada e quente, muitas vezes de arbustos que não dão a mesma sombra, ou até mesmo de palmeiras que, embora lindas e necessárias, não têm nada a ver com o local em que as colocam. Quando é que nossas autoridades vão descobrir a importância que as árvores representam para manter um clima mais ameno e humano numa cidade?






Voltei. Pela segunda vez e agora pra ficar. Ninguém mais vai me calar. Nada mais vai me calar. Essa é a hora. A hora da morte, da ressurreição. Da vida. Desculpem o tempo parado. Perdoem a dor da mágoa antiga. O tempo não pára (ainda não adotei a nova ortografia, não me parece fazer sentido).     
É hora de seguir seguindo. De pegar o trem na estação seguinte. Até a hora do adeus final. Tô de volta. Pra vida. Pro que der e vier. Vamos cantar a vida.






quarta-feira, 7 de março de 2012

Sobre pássaros e árvores


Parece que o homem só se curva diante da força da natureza quando ela vem na forma de tragédias resultantes das devastações provocadas por ele mesmo. Caso contrário, as motosserras continuam agindo impiedosamente pela mão do ser humano, que vai perdendo a cada dia sua humanidade mas pensa que enriquece. Mais uma vez esse espaço ficou fechado e sua voz emudeceu. Mas está novamente de volta agora, com toda a indignação que lhe é permitida.
No momento em que os cientistas estimam um aumento de  3,5 ° Celsius na temperatura média do planeta, que vem provocando o aquecimento de nossas florestas  e, com isso, a destruição do habitat natural de diversas espécies de aves das regiões tropicais do mundo, continuamos a agir impunemente. O ipê abaixo é a prova disso. Ele foi brutamente arrancado de praça pública e posto abaixo para dar lugar a mais um empreendimento imobiliário. Assim como ele, outras árvores estão caindo mas não estão sendo plantadas outras em seus lugares.
O que acontece é fácil de entender: pessoas sem capacitação são encarregadas das podas públicas, quase sempre drásticas. Da mesma forma, as que de boa vontade tentam plantar algo naquele lugar, quase sempre o fazem sem conhecimento de causa e acabam plantado palmeirinhas que pouca sombra dão, em troca de árvores frondosas que eram pródigas em nos abrigar debaixo de sua generosa copa. Não bastasse isso tudo, aí vai a última notícia da noite: 113 árvores de mais de 60 anos devem ser retiradas da Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, no Rio. Motivo: o Metrô precisa passar ali.

Ipê arrancado de praça na Gávea para dar lugar a mais um prédio

domingo, 29 de maio de 2011

Urubus, correntes e mortes


Urubus rondam o céu da Amazônia, que está agora sendo varrida do mapa, no estado de Mato Grosso, por tratores que arrastam correntes e carregam árvores e animais para a morte. E a Mata Atlântica, de tão desmatada, já atrai menos destruidores. Essas foram as notícias da última semana - nada alentadoras, num momento em que esperamos que a presidente Dilma Roussef consiga vetar a anistia aos desmatadores, votada no texto do novo Código Florestal brasileiro.
Ainda assim, a Mata Atlântica - que teve seu Dia Nacional comemorado na última sexta-feira, 27, tenta retomar o fôlego, deixada um pouco de lado, devido ao seu próprio estado de penúria. Ou seja, de tão destruída que já foi, não está nem mais atraindo os destruidores, o que não deixa de ser triste, porque parece que estamos chegando ao final.
Parece incrível, mas a destruição da Mata Atlântica já fez com que o bioma perdesse, nos últimos três anos, o correspondente a 31 mil campos de futebol ou oito vezes o tamanho do Parque Nacional da Tijuca. Com esses números assustadores, fechamos a semana ainda mais assustados com o saldo de quatro mortes de ambientalistas e agricultores que dedicavam a vida a conter a destruição do meio ambiente e tentar salvar a todos nós de ver morrer o planeta. Ou será que os destruidores acham que a vida na terra será possível quando a natureza não mais existir?